Publicado no boletim nº2511 em 15 de agosto de 2010.
Há três anos escrevi sobre os ipês de Perus. Esta semana eu passava pela rua Cavalo Marinho e em frente a um ipê em sua calçada uma irmã me lembrou daquele artigo. Ela me disse que até ler aquele boletim não notava a beleza que era aquelas árvores amarelas, floridas e exuberantes. Outros também me disseram isso, com certo orgulho de terem como companheiras no mesmo bairro tantas moradoras famosas e graciosas. Fui até àquele artigo e fiquei alarmado. Gostei. Havia um ar de poesia e de alegria em morar aqui. Que bom! Na época o assunto foi a missão dos ipês de pregar a esperança e a beleza em meio ao inverno.
Mas confesso que fiquei intrigado com um novo assunto: o olhar. O Senhor Jesus disse que os olhos são a lâmpada do corpo e que eles precisam ser bons para que sejamos bons. Um poeta chamado Exupery disse que “o essencial é invisível aos olhos”. Outro disse que “a beleza não está em buscar novas paisagens, mas em olhar com novos olhos”.
Chego a uma fatal conclusão: olhar não é tarefa fácil. E ver o bem e a beleza nas coisas comuns da vida é mais difícil ainda. Jesus certa vez disse: “... e tendo olhos não vejam”.
Observem agora as unhas-de-vaca. Elas estão sempre bem próximas aos ipês. Agora, no inverno elas também estão floridas. Umas se vestem de branco, como que procurando por um par romântico e outras de rosa, exalando a beleza imponente. A diferença é que as flores das unhas-de-vaca não estão sozinhas, como as dos ipês. Todas as folhas (que têm mesmo a forma da pata da vaca) estão alí, bem postas, como guardas rodeando cada uma das centenas de flores. Elas (as flores) se desgarram dos guardas e caem ao chão em grande abundância. É muito bonito ver o chão decorado, lindamente, sem que ninguém precisasse pagar caro a um florista ou que um pajem ou daminha as tenham jogado ali. Simplesmente as flores brancas ou rosas estão ali, no chão, apenas para serem vistas [e admiradas, na minha opinião].
De novo a Bíblia: Paulo diz que não nos miramos pelo que vemos, o que é temporário, mas pelas coisas invisíveis, que são eternas. Quando olhamos, temporariamente as flores produzidas no inverno, podemos saltar do que transitório para o eterno. Do olhar dos olhos para o olhar da alma. Ver o que é bom naquilo que era simples: a rua, o filho, o casamento...
De 2007 até hoje bastante coisa mudou. Já se foram três anos. Experimentamos alegrias e tristezas, outros invernos e outros verões. Mas os ipês, as unhas-de-vacas e as azaléias estão floridas de novo. O que deixamos de ver neste tempo todo? O que nos escapou aos olhos da alma que se vistos poderiam ter mudado a nossa vida pra melhor? Acho que o apelo desta conversa florida de hoje é um só. Abra seus olhos! Insista em ver a beleza naquilo que é comum. Dessa forma podermos ver até o que for invisível.
Bom inverno pra você! Pr. Marcelo
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