sexta-feira, 20 de agosto de 2010

OS IPÊS NÃO ESTÃO SOZINHOS

Publicado no boletim nº2511 em 15 de agosto de 2010.


Há três anos escrevi sobre os ipês de Perus. Esta semana eu passava pela rua Cavalo Marinho e em frente a um ipê em sua calçada uma irmã me lembrou daquele artigo. Ela me disse que até ler aquele boletim não notava a beleza que era aquelas árvores amarelas, floridas e exuberantes. Outros também me disseram isso, com certo orgulho de terem como companheiras no mesmo bairro tantas moradoras famosas e graciosas. Fui até àquele artigo e fiquei alarmado. Gostei. Havia um ar de poesia e de alegria em morar aqui. Que bom! Na época o assunto foi a missão dos ipês de pregar a esperança e a beleza em meio ao inverno.

Mas confesso que fiquei intrigado com um novo assunto: o olhar. O Senhor Jesus disse que os olhos são a lâmpada do corpo e que eles precisam ser bons para que sejamos bons. Um poeta chamado Exupery disse que “o essencial é invisível aos olhos”. Outro disse que “a beleza não está em buscar novas paisagens, mas em olhar com novos olhos”.

Chego a uma fatal conclusão: olhar não é tarefa fácil. E ver o bem e a beleza nas coisas comuns da vida é mais difícil ainda. Jesus certa vez disse: “... e tendo olhos não vejam”.

Observem agora as unhas-de-vaca. Elas estão sempre bem próximas aos ipês. Agora, no inverno elas também estão floridas. Umas se vestem de branco, como que procurando por um par romântico e outras de rosa, exalando a beleza imponente. A diferença é que as flores das unhas-de-vaca não estão sozinhas, como as dos ipês. Todas as folhas (que têm mesmo a forma da pata da vaca) estão alí, bem postas, como guardas rodeando cada uma das centenas de flores. Elas (as flores) se desgarram dos guardas e caem ao chão em grande abundância. É muito bonito ver o chão decorado, lindamente, sem que ninguém precisasse pagar caro a um florista ou que um pajem ou daminha as tenham jogado ali. Simplesmente as flores brancas ou rosas estão ali, no chão, apenas para serem vistas [e admiradas, na minha opinião].

De novo a Bíblia: Paulo diz que não nos miramos pelo que vemos, o que é temporário, mas pelas coisas invisíveis, que são eternas. Quando olhamos, temporariamente as flores produzidas no inverno, podemos saltar do que transitório para o eterno. Do olhar dos olhos para o olhar da alma. Ver o que é bom naquilo que era simples: a rua, o filho, o casamento...

De 2007 até hoje bastante coisa mudou. Já se foram três anos. Experimentamos alegrias e tristezas, outros invernos e outros verões. Mas os ipês, as unhas-de-vacas e as azaléias estão floridas de novo. O que deixamos de ver neste tempo todo? O que nos escapou aos olhos da alma que se vistos poderiam ter mudado a nossa vida pra melhor? Acho que o apelo desta conversa florida de hoje é um só. Abra seus olhos! Insista em ver a beleza naquilo que é comum. Dessa forma podermos ver até o que for invisível.


Bom inverno pra você! Pr. Marcelo

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