sexta-feira, 12 de setembro de 2008

“QUERO TRAZER À MEMÓRIA O QUE ME PODE DAR ESPERANÇA” - Lamentações 3:21

Publicado no Boletim nº 2412 de 14 de setembro de 2008.


Como dizia Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida”. Reconhecer as adversidades de nossa existência, não nos permite super estimá-las, torná-las maiores do que são. Tais procedimentos produzem intermináveis lamentações ou comodismos, os mais diversos, da nossa parte.

Jeremias estava em situação semelhante quando escrevia o texto acima referido. Sua gente vivia no exílio e ele, parte daquele povo, chorava a destruição de Jerusalém e a desolação de Judá após 587 a.C. Suas palavras continham um comentário triste do sofrimento dos judeus e uma confissão representativa do pecado daquela nação. Eram dias muito difíceis, até que resolveu tomar uma nova atitude diante dos sofrimentos, dizendo: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Não havia outra saída para o profeta, a não ser o reconhecimento de outras realidades que contrariavam as depressões emocionais por ele vividas. Era preciso um novo enfrentamento para a crise instalada, e o “porto seguro” é encontrado nos feitos de Deus, pois já experimentara em sua própria história de vida.

O que me pode dar esperança? O profeta chorão encontrou algumas respostas.
O servo de Deus relembra, em princípio, as misericórdias do Senhor ( 3:22). Com uma magnífica expressão de fé na graça infalível de Deus, o escritor bíblico olha para o futuro com novas esperanças. Jeremias está constatando o poder ilimitado da misericórdia divina e a conservação constante destes valores espirituais supremos através da renovação, daí afirmar: “as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã”. A compaixão divina é a mesma, mas a forma e os objetivos concretos das bênçãos de Deus em nossa vida, tornam a vida uma enorme renovação.

Faz questão de frisar também que a lealdade de Deus faz ver uma nova “luz no fim do túnel”: “grande é a tua fidelidade”. Recorda aqui a fidelidade de Deus ao povo exilado, mediante a aliança, de amar aquela gente em todos os momentos. Neste caso, seria Deus fiel a Ele mesmo. Manter o contrato seria honrar o Seu caráter e palavra e, como conseqüência, abençoar as pessoas que escolhera, independente de suas situações. O profeta recorda esse pacto e isso o conforta dando-lhe uma nova esperança.

Por fim, apesar de tantos obstáculos, Jeremias entendia que a outra realidade positiva, originava-se do fato de que Deus poderia “demorar” a Sua intervenção, mas esta viria, restando a ele, apenas esperar: ”...aguardar a salvação do Senhor, e isso, em silêncio”. Às vezes é preciso que o silêncio seja nosso companheiro quando estamos vivendo no “vale da sombra da morte”. Só esse momento de solitude, recolhimento, pode produzir as respostas desejadas, a calmaria anelada, o vazio que Deus almeja preencher, o que nos remete à poesia:”Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós. Tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz. Tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós, dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios. Tenho que esquecer a data. Tenho que perder a conta. Tenho que ter mãos vazias. Ter a alma e o corpo nus”. Faz parte, quando da intervenção divina, o exercício da espiritualidade, fazendo-nos descobrir o deserto obscuro da nossa alma, tornando-nos conscientes de que Ele há de vir a nosso favor.

Deus nos abençoe e continue a nos encher de esperança!
Rev. Saulo Marcos de Almeida

Um comentário:

Rafaela, Aquela que Deus curou disse...

Devemos trazer à memória todas as infinitas graças que o Senhor já nos concedeu outrora, para então descansarmos na longa espera pelas graças que ainda virão.