Publicado no boletim n 2516 em 19 de setembro de 2010.
Não vou falar das amoras. Mas é que não posso negar que foram elas a inspiração para eu me lembrar de uma lição das Escrituras Sagradas. Esta semana, enquanto meu coração ainda oscilava entre a tristeza do corredor do hospital onde há crianças doentes e alegria da alameda cheia de flores nas árvores, cheguei em casa, correndo como sempre, e dei uma passadinha de dois minutos no pé de amora que, à propósito, está lotado, generoso como sempre. A pressa era tanta que só dava pra comer aquelas que eu conseguia alcançar com meu braço. Pegava uma bem docinha e a próxima era meio azedinha. Duas doces e uma azeda. Uma doce e três azedas seguidas. Tinha pressa. Mas não queria sair dali com o gosto de azedo na boca, então dava uns pulinhos e tentava alcançar aquelas que estavam mais doces. E foi assim até o final daquele tempo efêmero mas enormemente prazeroso.
Lembrei-me então consultar a Palavra de Deus que estava guardada em meu coração e lá encontrei que da mesma forma que recebemos as coisas boas do Senhor devemos também receber as ruins. A vida é cheia de notícias alvissareiras e de avisos desestruturantes, cheia de surpresas e de decepções. Alegrias e tristezas.
E o mais intrigante é que um mesmo evento pode ser, ao mesmo tempo, motivo de alegria e de tristeza. O casamento de um filho, por exemplo. Há a expectativa e a esperança de que ele seja feliz, a gratidão e conforto da realização, mas há também a insegurança do pai/mãe que não quer deixar partir (o pior é que alguns não deixam nunca), há ainda a dor da despedida, do nunca mais...
A Bíblia reflete a bondade e o cuidado de Deus por nós que somos seus filhos e filhas. E é ela que, se por um lado nos mostra que Deus não nos deixa sucumbir ao mar da vida, por outro nos faz ver que há momentos da vida em que nos vemos cercados e sem saída. “Água na gente, Faraó atrás e montes de todos os lados”- assim eu cantava quando criança.
Quero lhe convidar hoje a louvar ao Senhor comigo em gratidão pela vida. Mesmo sendo ela cheia de contradições. Quero lhe convidar a louvar ao Senhor em gratidão por ele nos ter criado como somos e nos dado a sua Palavra a fim de que sejamos pessoas mais “bem feitas”, mesmo sendo nós ainda cheios de virtudes e de defeitos. E por termos sido criados com um desejo enorme de não seguir pela vida com o gosto de azedo na boca.
Descansemos nossas contradições na Palavra Sagrada do Senhor: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça! A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus” Lc 8.8 e 9
Com carinho, em 16 de setembro de 2010.
Pr. Marcelo
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