sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A COMUNIDADE DE DAVI - I Sm 22.1-5*

Publicado no Boletim nº 2416 do dia 19 de Outubro de 2008.


Não era o que se poderia chamar de uma Igreja ideal. Pelo menos no que diz respeito ao perfil de seus componentes. Uma família, cujo convívio dos irmãos era de inveja, competição, conflito e decepção. Além destes, outros tantos endividados, gente que sonegava impostos, gente com uma porção de problemas. Este era o grupo que compunha aquela comunidade. Aí está: A “Igreja” está formada.

Além disso, o líder desta comunidade, que já tinha sido um mero Pastor de Ovelhas, agora é um guerreiro temido, mas também vive fugindo e está jurado de morte por alguém mais poderoso que ele. Por enquanto vamos chamar este grupo de cerca de 400 pessoas de “Igreja da Concha”, abreviatura de Conchinchina**. A pergunta é: você e eu teríamos algum prazer ou orgulho de dizer “esta é a minha Igreja”? Na hora de uma entrevista de emprego diríamos com certo ar de superioridade: “sim, sou membro desta comunidade desde que nasci. Lá eu fui batizado e lá me casei”.
Há muita gente que desistiu da Igreja. Tais pessoas trazem no peito profundas marcas e decepções porque fizeram parte, em algum momento de sua espiritualidade, de algum tipo de “Igreja da Concha”. Uma igreja cheia de defeitos, cheia de gente com problemas e que criam problemas. E o que é pior: decepcionaram-se não apenas com a Igreja, mas desistiram de Deus. A possibilidade de ter uma espiritualidade que completasse o sentido da vida foi lançada no mar da desilusão.

São pessoas que sonhavam com uma relação amorosa com Jesus, o Cristo, mas o que tiveram foram apenas enfrentamentos desgastantes e divergências com “os filhos dos homens”. Não suportaram ouvir a cerca do Reino de Deus e serem engalfinhados no Reino menor de pessoas humanas, desprezíveis e insensatas. Gente parecida com elas próprias. Procuravam alguém melhor, divino, depararam-se com iguais ou piores, humanos.
A despeito da Igreja da Concha ter começado tão mal, ela encontrou o favor de Deus. Não foi nenhum milagre sobrenatural. Foi sim uma constante caminhada, braços dados um com o outro, na certeza de que Deus era com eles e que Ele iria conduzi-las a um lugar seguro. Houve um tempo na vida desta comunidade em que ninguém se orgulhava de pertencer a ela. Houve um tempo, um pouco mais tarde, que dava orgulho ter pertencido àquele grupo.

Os primeiros anos foram marcados por profundo desprezo e incertezas. Entretanto, em tempos depois vemos que aquele líder tinha sobre si o favor divino, e que aquela comunidade protagonizou ações de enorme beleza e intensas manifestações de bondade, generosidade e convívio fraterno. (Leia II Sm 5.10). É assim! São os mistérios de Deus. A Igreja da Concha era uma igreja de Deus. As comunidades desajustadas também são alvo do favor divino e do olhar amoroso do Pai.

No temor do Senhor,
Pr. Marcelo

* Texto base do sermão do último domingo, dia 12/10/08
** O nome correto é Ziclague (1Sm 27). Preferi usar o nome fictício: Concha.

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